Na imensa maioria das situações cotidianas, não compreender a Arte, pode somente redundar em situações embaraçosas, patéticas, mal entendidos e, popularmente, em verdadeiros micos. Mas oxalá fosse somente essas as consequências desse não conhecimento ideal das coisas. Na verdade, há não poucas situações em que tais faltas de verdadeiro conhecimento termina em violências, crimes e até mortes.
Entretanto,
há uma situação artificialmente fomentada, não inscrita em lugar algum e
fundamentada em falsas teses: a formatação de autênticos guetos
artísticos na qual as pessoas são praticamente desencorajadas a
desfrutarem, se desenvolverem e a se expressarem em um tipo de arte que
não seja ligada à sua própria ou presumida etnia, classe social ou
origem.
Mas inicialmente revejamos o conceito de "gueto": gueto
foram regiões físicas, arbitrariamente impostas, por razões ideológicas,
por ações políticas de repressão ou de clara discriminação,
especialmente racial, onde pessoas identificadas com mesmas
características e de certa forma indesejáveis aos olhos dos projetos de
elites dominantes em algum poder momentâneo, eram impedidas de sairem
desses locais. Como exemplo temos, as populações judaicas em Veneza, na
Itália, por perseguição católica dos reis espanhóis e posteriormente na
Alemanha, Polônia por decisões maligna dos nazistas alemães. Esses não
foram historicamente, os únicos exemplos nefastos dessa ocorrência
singular.
Uma canção belissimamente composta, gravada
pelo extraordinário barítono Elvis Presley e regravado primorosamente em
dueto com a sua filha, hoje falecida, ex esposa do Michael Jackson,
intitulada exatamente "in The Gueto", nos dá uma visão de uma região de
uma grande cidade dos EUA, em que as pessoas , especialmente as
crianças e os jovens, por incapacidade de terem uma outra vida, um
outro destino, estavam repetindo um ciclo de nascerem em pobreza,
crescerem em pobreza e morrerem de forma absurda.
Mas o nosso
assunto, nessas postagem e desenvolvido em dezenas de aulas, junto a
centenas de alunos, tocando exatamente nesse ponto, é a realidade nada
romantizada, da existência de guetos culturais, que embora invisíveis,
ilegais, não jures prudenciados, existem e fazem com pessoas sejam coagidas de forma às vezes irreversíveis, a gostarem das mesmas coisas,
terem os mesmos valores e não terem a possibilidade artisticamente de
aspirarem nada que não seja o invisível e solidamente decretado pela sua
origem, sua etnia, sua "raça" vulgarmente falando, sua situação social
e econômica, todas essas bases e justificativas totalmente falsas e
lamentavelmente reforçadas por professores, sistemas de ensino, ações
políticas erradas e somente às vezes quebrada por culturas religiosas e
por entidades que oferecem ao grupo nem menor de pessoas a possibilidade
de escaparem dessa atroz forma de determinismo e de ciclo nefasto de
repetições que gera não só uma estagnação como uma degradação do que
pode ser reconhecido de legítima cultura e real patrimônio cultural e
artístico de toda a humanidade, que deve ser universalmente
compartilhado e permanentemente aperfeiçoado e elevado.
Primeiramente,
deve ser lembrado que a quase predominante divisão da humanidade em
duas partes simplórias, eu repito, entre "brancos" e "negros", além de
descabida, injusta, anti-científica, é nefasta. Reforça erros e
injustiças históricas e recria fantasma e monstros piores do que já nos
assombraram. Cada época, cada geração, cada povo, comete seus próprios
erros e muitas vezes irreparáveis. É o tal do anacronismo. O que lhes
parecia certo, só aparentava ter alguma lógica cabível, pela miopia em
que viam a realidade. Nós hoje erramos em coisas que eles não erravam e
acertamos em coisas que eles erravam crassamente. As gerações
futuras rirão ou lamentarão a nossa confusão mas eles terão as próprias
bobagens em que acreditarão e feroz e pateticamente defenderão, é certo
que isso acontecerá.
Bem, lembrado isso,é cabível lembrar que só na África sub-Saara, há pelo menos três mil etnias, abrangendo dezenas de tonalidades de pele, comprimento do túnel do nariz, altura do túnel do nariz, proporção da prega epicântica sobre ou abaixo dos olhos, proporção dos lábios e diferenças entre o cabelo mais crespo passando por uma variedade de crescimento e tipos de cabelos, todos crespos. Na Rússia, hoje, após a extinção da URSS, mais de cem etnias catalogadas; na China cinquenta e cinco etnias e poderíamos a, titulo de demonstração e argumentação, enumerar a variabilidade de seres humanos e suas característica, por cada região no mundo, desde as menores aparentemente menores ( e só aparentemente ) até as grandes regiões territoriais no mundo. Catalogadas, temos cientificamente, pelo menos cento e dez tons de pele. Entretanto, os ativistas de "raça" só enxergam, por ser aparentemente conveniente ao seu ativismo, "brancos" e "negros"!
E é com base nessa divisão arbitrária, que é justificada por outras bobagens como regionalismo e cultura "do campo"e "da cidade", que compulsoriamente cada indivíduo, é invisível e silenciosamente coagido a gostar e a produzir só determinado "tipo de arte", sendo lhe objetivamente vedada outras, por serem "burguesas", "de nações ou povos imperialistas", "colonizadores", etc. Faço uma pergunta objetiva que não pode ser honestamente desviada: Alguém deixará de usar um automóvel ou outra pérola do consumo moderno como computadores e celulares ( que são computadores ) simplesmente porque "não foi a sua etnia que a intelectualmente a produziu"? Ou ainda, porque não arremeta a sua cultura nativamente étnica? Claro ainda não vi no Brasil, uma banda de punk rock formada por indígenas ( lol ) e nem veremos por força de uma entidade invisível e desconhecida!
Nas aulas sempre converso com alunos e alunas, dessa forma colho depoimentos sinceros e ouço falas que não são ( e isso é absolutamente verdade! ) oportunizada, tanto por livros didáticos como por professores que só rezam na estrita mediocridade dos bilionários livros didáticos produzidos, permitidos e comprados pelo governo federal. Numa dessas uma menina mestiça, mas que tecnicamente enquadrada como negra, deu o depoimento de que chegou até a iniciar-se no balé, mas a partir do que eu disse, embora ninguém tenha jamais lhe dito objetivamente que não era para ela aquela expressão artística, ela percebeu que houve algo invisível, silencioso, vindo dos olhares das pessoas, "que aquilo não era para ela".
Um outro
depoimento, vindo de uma aluna “tecnicamente branca” ( mesmo porque não
há como reconhecê-la de outra forma, por saber fazer, todo o tipo de
tranças e arranjos de cabelo "não brancos" e por fazer em si mesma,
alguém olhando para ela, sem dizer nada, elogio ou crítica ( e la afirma
não ser apenas uma vez! ) como se dissesse:" o que tem a ver isso com
você?"E ainda há a justificativa ideológica, totalmente injustificável:
“apropriação cultural".
Eu e a minha esposa, por ocasião do
aniversário de primeiro encontro, há trinta e nove anos, estivemos
no Grande Teatro do Palácio das Artes, aqui em Belo Horizonte. A jovem
pianista de origem nipônica, uma brasileira de ascendência japonesa; o
maestro de origem húngara, talvez ou alemã, depois confiro e corrijo aqui.
Mais de oitenta músicos na grande orquestra. Por pura curiosidade,
somente sete músicos da orquestra podem, tecnicamente e isso é muito
importante, podem ser considerados negros, nenhum retinto ou minimamente
africano. Todos apenas mestiços. E por que isso? Simplesmente falta de
talento nato, falta de condições de estudo? O estudo de música no Brasil
é um luxo e algo muito pessoal, mas a razão é que se você é negro, ou
mulato, ou mestiço, ou "biracial", ou "mixed" como dizem nos EUA, você é
incentivado ( a ) a tocar instrumentos percussivos na música popular ou
no máximo um contrabaixo bem grouve.
A pergunta, novamente, é: Há verdadeiramente algo que ligue qualquer etnia ao desenvolvimento ou gosto artístico de alguma pessoa no mundo, tanto positiva, quanto negativamente? E a resposta é um sonoro e definitivo não! Muitas vezes esses desvios de percepção da realidade passam despercebidos sendo abalizados como uma preservação cultural e das origens étnicas de cada pessoa. Entretanto, se voltarmos no tempo, em nome da preservação de valores, crenças e comportamentos, só para exemplificar, será admissível as esposas e animais domésticos serem queimados vivos juntamente com os corpos do maridos falecidos, como faziam os brancos vikings. A humanidade deve, ou deveria, caminhar para a frente, aperfeiçoando tudo de louvável, que como espécie construímos, burilamos a cada geração e não ao contrário. As crenças pagãs eram uma das características de povos tão inteligentes que nos legaram coisas que não precisamos descobrir novamente, como o dia dividido em vinte quatro horas, cada hora em sessenta minutos e cada minuto em sessenta segundos. Ou ainda os nove algarismos hindus que usamos hoje em todo o mundo, ou o mais de trazendo e sessenta dias a cada ano; ou o número Pi... entre tantas descobertas absolutamente geniais e multi "raciais". Mas todos esses povos tinham não poucas ideias abomináveis. Deveríamos ressuscitá-las para provar que de algum modo viemos deles? Obviamente, pessoas lúcidas responderão, que não!