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"Appassionata"
Já tocamos nesse assunto em postagens anteriores. Acho, entretanto, relevante falar sobre isso mais uma vez. Há um movimento, uma tendência quase geral, em valorizar, não no sentido ideal, a arte particular de cada povo, região, classe social, grupo, gueto, etc, com o a intenção de abolir as diferenças e os preconceitos possíveis, principalmente com relação ao que é produzido pelas chamadas minorias, sejam étnicas ou econômicas. Muito compreensível tudo isso. Porém, caímos em algumas contradições como, por exemplo, não poder dizer que algo é ruim ( às vezes não seria politicamente correto ). Todo mundo mostra o que faz, se orgulha das porcarias que são feitas, das asneiras que são ditas ou produzidas e tudo bem.
Vamos ao ponto seguinte: é claro e aceitável e válido que os diversos grupos humanos, sejam marcadamente étnicos,ou sócio-econômicos, nacionais, regionais, ou que seja, produzam e contribuam com a sua criatividade, com novos elementos estéticos, etc. Por outro lado, a humanidade como todo,e isso podemos afirmar com certeza, busca a excelência em tudo o que faz ou produz e na Arte não é diferente. O célebre músico Sivuca, já falecido, uma vez perguntado sobre o folclore ou a música folclórica deu uma resposta que por não ser politicamente correta, a mídia e educadores não fazem nenhuma questão de repercutir. Palavras suas em um documentário veiculado pela Tv Cultura:.." a música folclórica não serve para nada se não for revestida dos elementos da música erudita". Chocado? Sempre que converso com alguém sobre o assunto e repito a informação do Maestro Sinvuca, que tocou a vida toda música popular por todo o Nordeste Brasileiro e por todo o país, exterior também, e não era uma pessoa ignorante, professores de Arte e de História torcem os narizes.
Porém, visto pelo lado correto ele está absolutamente correto. Não dá para alongar esse assunto no momento, mas dá para citar exemplos gerais. As diversas contribuições particulares, sejam por determinada etnia, negros no Brasil,em Cuba, nos Estados Unidos da América ,possibilitaram o desenvolvimento de uma música esplendorosa cuja base é a Música Ocidental como linguagem e todos
os elementos construídos pela música erudita. Exigir que índios, negros, agricultores, pigmeus,
aborígenes australianos, pessoas do Norte do Brasil, Ásia Central, Esquimós, etc , obrigatoriamente se fechem em suas tradições e passado,para que todos olhem para eles como animais em extinção em um zoológico, é um crime injustificável ainda que aparente uma defesa da identidade de um grupo ou cultura particular. A propósito, com base nessas ideias as quais critico, o dinheiro público está sendo gasto as pampas com produções culturais de qualidade duvidosa, só por ser feita por gente pobre e de aglomerados sem elementos que construam algo positivo. E o que está sendo gasto não é pouco. Também espaços nas tvs públicas estão sendo destinados a esse tipo de produção desqualificada. Olhem que o que estou dizendo não tem nada com preconceito. A população marginalizada economicamente sempre produziu e contribuiu com linguagens artísticas que hoje são reconhecidas e que desde o seu nascedouro já contia elementos positivos, senão vejam o exemplo do samba, do jazz, do rock , do gospel, do tango, etc.
Como exemplo disso tudo, o vídeo acima, em que um grupo de músicos de origem oriental, executam uma música que não é de sua cultura, e de forma espetacular.
A música é a canção " Appassionata". Isso sim , na minha opinião ,que é extremamente válido e maravilhoso, quando alguém vai além e se apropria livremente da Arte produzida por outro podendo agregar a sua própria Arte, advinda de seu grupo ético, sua região ou país.
Por Helvécio S. Pereira
Graduado em História da Arte, desenho e plástica pela EBA /UFMG
e em pedagogia pela FAE/UEMG
Professor de duas redes públicas em Belo Horizonte Minas Gerais e ex-formador da GPLI, ligada à Secretaria da Educação da PBH por cerca de seis anos.
Blogueiro desde 2011, professor, compositor, pintor, ilustrador e desenhista